O que será mais potente?Anfetaminas ou entorpecentes?Quem sabe os dois!
Alucinada me fará esquecer,Esqueço do quanto viver para mim é nada.
Sondas, lavagens gástricas...Cloreto de sódio na minha corrente sanguínea,Estou fraca e demente,Agonizando sem conseguir respirar.
Eu quis que fosse assim,Mas insistem em me salvar!Queria gritar, mas não consigo nem falar,Quero dizer que me deixem morrer.
Pois, só morta (amiúde sepultada),Nula, extinta e consumadaSerei compreendida por mim mesma,Por não precisar da compreensão de mais ninguém.
Estou com cheiro de morteNessa cena deplorável e excitante.
O sangue que espirra das minhas narinasAcaba de manchar a minha tela,Tornando-a, assim em arte:A arte de se matar!
Mas o sangramento parouE a sonda começa a tirar de mim toda a química existente,Então percebo que mais uma vez meu suicídio fracassou...
Nesse 29 de agosto de mil novessentos e noventa e oito.
Mas sim, meu todo cravado em teu corpo;
Não quero provas de amor compelidas;
Mas sim, o mínimo de carinho se for voluntário.
Não me fantasiarei de condor para te iludir;
Me mostrarei abutre-fusco como sou;
Então, me terás se quiseres de verdade;
E não como sonharias (se eu não for o que querias).
O que poderei fazer se não sou eu tua Euterpe?
Nem ao menos tenho flauta, apenas saudade!
Para mim, é uma experiência nunca vivida;
Dar o que pela primeira vez tenho comigo;
E necessitar de você a retribuição;
Coisas que eu não sentia até então.
Descrevendo-me assim, fica fácil ver meu descostume;
Mesmo sendo dificil (quase impossível) me entender;
Pois, eu venho com um manual de convivência;
Só que as instruções são quase indecifráveis.
Enquanto procuro a mim mesma...
Espero achar-te em meus caminhos viáveis.
03/08/99
Construimos nossa relação sobre um campo minado;
A cada dois passos, um deles será o errado;
Então de novo, novamente, recomeço, reiniciação.
Seria mais fácil esquecer, se não fosse você...
Quanto aos temores, mais potentes em pesadelo;
Como se fossem um alerta meio macabro;
Avisando-nos de tudo que iríamos passar;
Que o pior visto é ainda pior que isso.
Um míssil tendo no alvo a base inimiga!
Tentei fugir, tentei que salvasses a si mesmo;
Já perdi você mesmo, aqui, dentro de mim;
Nas muitas vezes em que eu duvido;
Que suportarás todo o conflito sem desistir.
Sempre que uma guerra parece perdida...
Uns se escondem, outros se suicidam!
04/06/2005
_Debilitada de sorrir.
Burra ou bondosa?
_A sábia idiota!
Ora sou bruxa;
Ora sou anjo;
Outras, apenas.
Muitas vezes demônio enfraquecido
Guardiã de um templo maldito
E amaldiçoada pelos vivos.
Indigente de alegria...
Já por mil duzentos e vinte oito dias
E inepta de buscar a paz,
Nem que seja por um momento
Sabendo que tenho pouco tempo
Ganho de presente
Um nada que já tenho a mais.
1998
Hoje é mais um dia de esperar...
E não ganhar!
Hoje, sinta dor e chore horror,
Por seu maior temor.
Espere luz no fim do túnel,
Se desespere, não a ache.
Sonhos, pra que sonhos?
Eu já te dou meus pesadelos!
Coma o que está apodrecido
E sinta-se apodrecer também.
Cantarás por alegria
Mesmo tendo matado um amigo
E morra ao tentar encontrar a paz
Porque o inferno é mais atrás...
E os seus passos
A diante não vão mais!
22/12/98
Todo sentimento é agudo
E qualquer punhal lembra a morte.
Celebremos o caos, todo o mal e o imortal:
Morrendo por ser perecível,
Ou ainda, qualquer coração ferido.
Quando o sangue escorre
É que a morte se revela mais sombria,
E quem diria que sangrei por cinco dias?
Mulheres continuam vivas
Carregando a certeza
Da não procriação em desperdício.
Quando há fertilidade sem fecundação
Torna-se sangue a maldição...
Menstruação!
Somos nós mulheres, pára-quedas e precipício,
Vida e morte todo mês.
23/03/2005
Por momentos quero matar, outros salvar, se chorando estiver nervosa começo a rir. É só quando me desligo do mundo que passo a sentir falta do que sentir.
Durante bastante tempo determinei que dormir era fraqueza, hoje busco o sono que só me vem através das minhas inseparáveis benzoadiazepinas e que algumas vezes não conseguem me fazer sonhar, mas me fazem relaxar e viajar nas alucinações hipnagógicas do meu hemitartarato de zolpidem. E o que vou fazer? Ter dezesseis anos e esperando morrer, odeio esperar! É sonhar com liberdade e passar o resto dos meus dias em grades.
E do que me vale uma reação, se durante todo tempo tudo que fui e ganhei, decepção. Por isso podem até achar cura para o mal do século, menos para a minha depressão.
Mas o que se pode dizer de alguém que já tenha passado por certas coisas assim? Ninguém pode reclamar se o seu comportamento for muito bom: para ser muito ruim!
1998
Vou pisar em vidros sem sentir dor,
E passar toda minha vida assim,
Sem sentir esse tal de amor,
Quem quiser que o sinta por mim.
Quero me abrigar do abandonado
E perceber que essa dor é incurável,
Como a minha depressão
Por ainda sentir- me viva.
Acordo com as minhas doenças,
Então, continuo sabendo que pra morte
Não a salvação por crença.
Espero que o meu corpo sepulto
Não cause nenhuma ausência,
Porque eu não quero fazer falta a ninguém.
13/07/97
A radiografia do mundo é o inferno
E já não é novidade receber do mal a solução:
Do vírus letal a cura para dor da vida
Da cegueira permanente, livrar-se da visão descontente.
Sangrei até agora, gelada, clorótica
Enfim, minha aparência desejada.
E se os outros não gostam, do que me importa?
Castelo da vitalidade ao longe,
Trilha da consolação sem acesso
Perdemo-nos no vale malfazente
Quando percorremos o caminho de ciprestes.
Quando chegaremos ao preparatório?
Qual será a casa dos ensinamentos?
E conheci teus medos, teus desejos,
Agora, me desconheço.
02/05/98
Para depressivos, anfetaminas;
Para inconformados, diazepinas;
Para perturbados, hemitartarato de zolpidem;
Para apaixonados, bebidas alcoólicas;
Para doloridos, morfina;
Para desiludidos, ibogaína;
Para estressados, cannabis sativa;
Para indispostos, ecstasy;
Para masoquistas, heroína;
Para discretos, chá de cogumelo;
Para criminosos, crack;
Para curiosos, chá de fita;
Para apressados, LSD;
Para perdidos, cola;
Para juvenis, loló;
Para mauricinhos, lança;
E aos não citados, esperança...
A última que irá morrer!
02.09.2004
Fúria por medo
Ainda é cedo para voltar
Em último caso, na última hora
Quase sempre com todos: com niguem!
Sabe bem do caminho a ser tomado
Aqueles trilhos que o levará
Trem que carrega fantasias
E consigo, toda a força necessária.
Geralmente, não para na estação que devia
E o porquê do desistir é obscuro
Assim como seus vagões de mistério
Jamais denunciam a real mercadoria.
Passam-se as noites e os dias
Ele segue para não se sabe onde
Quando a cada despertar sabemos
Nos aproximamos mais do final.
Inteiramente comprometido com seu vício
Sem que nunca precise tentar se controlar
A vida já nos faz correr tantos riscos
Que um precipício pode parecer um abrigo.
Para mim é assim tão simples
Fácil é definir o que não é de nós mesmos
São sonhos, pesadelos...
O ponto de vista é de quem dita o fato:
Veloz [ eficiente ] ou então desgovernado!
(Nanda Zombie- 09/08/2003)
Para cada coisa boa existente
Há sempre uma má,
Isso é a essência da tentação.
Hoje, sou o que outrora
Tinha sido jardim florido,
Agora, fúnebre, esquecido.
Fui transformada
Em escultura espatifada,
De uma obra qualificada
Como desqualificada,
Batizada pelo nome
Espectadores da destruição.
Todos nós veremos a maldição.
_Quem virá como filho de Deus?
_Quem virá como o de Satã?
A verdade, é que todos nós sofreremos
Pelo mal que procriamos,
Pelo desamor que cultivemos...
Então, no sexto mês,
No sexto dia,
Na hora seis,
O mal não há como impedir,
O bem insistirá em partir.
Por isso rezem!
Supliquem ao senhor!
Pois a TRINDADE DIABÓLICA
Já entrou em ação maléfica:
O Demônio, o Anti-cristo, e o Falso Profeta!
Fernanda Zombie 20/03/98
Penso em um demônio (Vinícius)
Com o rosto de Jesus Cristo,
Que me tenta e acalma.
Minh'alma completa e possuída
Avisa que não me adianta rezar.
Religiosidade e espiritualidade
Com força extrema me invadem,
Vejo teu corpo como nova comunhão.
Quando eu, abrigo de teus pecados,
E faças de mim o teu confessionário.
Uma igreja, como sempre o sagrado,
Este é o meu cenário desejado;
Então, que minha boca seja santuário
Onde purificarás pele, lábios
No sabor do vinho que beberemos.
Logo após o cântico de celebração,
Tomados por qualquer desejo absurdo,
Compreenderemos toda a essência
Do tal prazer nessa minha devoção:
Doar-se para o outro sem medo.
Por fim, sem que eu me esqueça
Iremos para a última ceia...
Busque a hóstia consagrada
E a consagre em minha língua,
Tua saliva: minha sede de água benta!
E mesmo que me perturbe a consciência
Não iria me conter diante do Messias...
_Santo, aqui, crucificado em mim!
Nanda Freitas - 29/01/2010
Tenho um cigarro de companhia
E a melancolia se abriga dos dois,
O consumo lentamente e descontente,
No prazer com o que me faz mal.
Penso nas coisas que me fazem bem,
Apareceu-me a cura, mas ainda não tenho,
Tu não estás aqui comigo e preciso...
Fico então com o excesso da falta!
Urubus famintos em disputa por comida,
É só o que me distrai nessa tarde cinzenta,
A carniça de outros animais é o luxo
Do lixo podre que os alimentam!
Lágrimas me escorrem sem que eu queira,
Eu nunca consigo detê-las, contê-las,
E como ácido, queimam a minha alma
Nesse dilema entre me entregar ou recuar.
Já és conhecedor dos meus tormentos
E não quero te confundir, perturbar.
Mas, quem o salva se me salvares?
Quem matará? Quem morrerá?
Conflitos de matéria e espírito,
Dentre o meu medo e toda minha vontade;
Na realidade de não saber, não sentir
Se vou ficar bem, ou se vou me iludir.
Que dor é essa que me provoca a falta?
Corrosiva, começa a abrir-me uma ferida.
Me intriga, pela consciência do cedo
E novamente, temo me exterminar.
Sei que me causou câncer violento,
Pútrido, sob pus e o meu lamento.
Quando abro os olhos você não está perto,
Mas me nego, nego recusar a esperança.
Outrora, quem sabe, consiga ser mais sensata
É que sob teu efeito, raciocino lento...
Querendo desintoxicar-me inutilmente
Porque és tu, a minha droga mais potente!
Permaneço, como se num berço jazigo,
Inerte, à espera de teu contato como abrigo...
E desconhecendo que segredo é este
Que o faz mexer tanto comigo!
Nanda Zombie 05/02/2010
A morte previsível é amiga protetora,
Ela vai te querer
Mesmo que todos não te queiram;
Ela vai te vestir sombria
Com roupas fúnebres e belas.
Ela não vai te condenar
A nada além dela mesma.
Leal companheira,
Feliz por ela ser minha credora,
Compensarei com meu corpo apodrecido
Pela alegria de livrar-me da incompreensão.
Não! Eu não quero ser cristã!
Serei entregue aos vermes
Do mesmo jeito que foi meu avô,
Ou qualquer cachorro pulguento.
Tens medo do dia do julgamento?
Espero tranqüila a minha condenação.
Porque pagarei pelo mal que fiz
E pagarão pelo mal que a mim foi feito,
Será igual, do mesmo jeito.
Então morte, és salvação
Dentre o esfalfamento dos homens
E toda nossa desunião.
Agora, a que permanece...
Em um mundo onde não se nasce,
Em um tempo onde não se cresce.
Espero-te morte...
Com minha triste obsecração!
Nanda Zombie 22/07/1999